Hortoterapia: os efeitos terapêuticos do contato com a terra

Hortoterapia: os efeitos terapêuticos do contato com a terra

O cultivo e o cuidado com as plantas proporcionam benefícios físicos, sociais e emocionais

A hortoterapia, ou horticultura terapêutica, é uma técnica de terapia complementar que se embasa no contato com as plantas, pelo cultivo da terra e agricultura. Já é de amplo conhecimento os benefícios da conexão com a natureza, e a hortoterapia vem se despontando como um auxílio terapêutico para ansiedade, reabilitação física e/ou emocional, sendo aplicada em diversos tipos de espaços, como instituições médicas, lares para idosos, hospitais, unidades de saúde, sanatórios, clínicas de reabilitação.

Geralmente, a hortoterapia é praticada em duas modalidades, podendo ser passiva ou ativa. Na primeira, os praticantes contemplam a beleza da natureza, por meio de jardins, hortas ou pomares, e desfrutam da proximidade com essa, se aproveitando-se dos benefícios resultantes deste contato. Já a modalidade ativa estimula a participação dos praticantes nas etapas do processo, como no plantio, na rega, na poda etc., para que, posteriormente, possam apreciar os resultados de sua dedicação investida.

“Para aqueles que gostam de cozinhar em casa, começar com um vaso de erva ou tempero é muito bom. Essas plantas têm necessidades mais similares, então os cuidados não diferem muito.” Carlos Kreutz, biólogo

Segundo a Associação Norte-Americana de Hortoterapia (ANH), no século 19, o Dr. Benjamin Rush, um signatário da Declaração de Independência e reconhecido como o “Pai da Psiquiatria Americana”, foi o primeiro a documentar o efeito positivo do trabalho no jardim em indivíduos com doenças mentais. Já nas décadas de 1940 e 1950, a aceitação desta prática se expandiu significativamente com os cuidados de reabilitação de veteranos de guerra hospitalizados. Sendo assim, não mais limitada ao tratamento de doenças mentais, a prática da hortoterapia ganhou credibilidade e foi adotada para uma gama muito mais ampla de diagnósticos e opções terapêuticas.

Os cactos e outras suculentas são ótimas opções para o clima cuiabano

Benefícios da hortoterapia

Este método terapêutico por meio do contato com a terra e do cultivo abrange benefícios que vão dos aspectos sociais – por promover convívio e integração social – a aspectos físicos e emocionais. No quesito físico, aprimora as habilidades motoras, cardiovasculares e respiratórias.

Sobre os impactos emocionais, a prática tem relevância na promoção de bem-estar, do senso de valor pessoal – gerando sensação de produtividade –, de autocontrole, do humor e da qualidade de vida. Além disso, pode estimular a expressão criativa e a capacidade para definir e concretizar objetivos.

Em um artigo da Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP-USP), analisou-se as hortas comunitárias como atividade promotora de saúde, por meio de hortas instituídas em Unidades Básicas de Saúde (UBS). Como resultado, foram demonstradas melhorias na relação interpessoal na UBS, sensação de bem-estar e impactos positivos na saúde mental dos envolvidos, além de que, do ponto de vista principalmente das mulheres, este espaço proporcionou a conquista de se organizar e destinar um tempo para si.

Para aqueles que gostam de cozinhar em casa, começar com um vaso de erva ou tempero é muito bom.

Os inúmeros benefícios da hortoterapia podem ser divididos em grupos: cognitivos, físicos e psicológicos.

Benefícios cognitivos

• Melhora a concentração;
• Estimula a memória;
• Estimula o cumprimento de metas;
• Aumenta a capacidade de atenção.

Benefícios psicológicos/emocionais

• Melhora a sensação de bem-estar;
• Melhora o senso de valor e satisfação pessoal;
• Aumenta a sensação de calma e relaxamento;
• Reduz o estresse e a ansiedade;
• Alivia a depressão.

Benefícios físicos

• Melhora as habilidades motoras;
• Melhora a coordenação olho/mão;
• Aumenta a imunidade;
• Reduz a frequência cardíaca;
• Promove a atividade física.

Levando os benefícios da hortoterapia para casa

Para se beneficiar com estes efeitos positivos da hortoterapia, não existe lugar certo, pode ser tanto em espaços compartilhados, como já vimos, ou até mesmo de casa. O biólogo Carlos Kreutz está à frente do Verde em Casa Atelier desde 2017, e o que começou como um hobby, uma atividade pessoal, hoje é um negócio que ajuda as pessoas a terem e a cuidarem de suas próprias plantas. Segundo Carlos, o projeto o proporcionou momentos de relaxamento, introspecção e paz em um período em que seu antigo trabalho formal lhe causava níveis de estresse e cansaço elevados. “Para mim, é realmente uma terapia, é poder me desligar do mundo e me conectar com as plantas, perceber do que elas precisam, e fazer isso acaba influenciando outros aspectos da vida, e até mesmo no relacionamento com as pessoas, pois sinto que às vezes acabo influenciando outras pessoas a cuidarem dos seus jardins, suas plantas.”

Para começar, Kreutz aconselha que se entenda o conjunto de necessidades das plantas adquiridas (quantidade de sol, água e nutrientes que elas precisam), e que inicie com uma ou duas plantas que caibam no seu espaço, para ir evoluindo. “Os cactos e outras suculentas são ótimas opções para o clima cuiabano, mas, ainda assim, é importante saber que nem toda suculenta gosta de sol quente. Para aqueles que gostam de cozinhar em casa, começar com um vaso de erva ou tempero é muito bom. Essas plantas têm necessidades mais similares, então os cuidados não diferem muito.”

Hortas comunitárias: espaços de convivência e trocas de experiência

As hortas comunitárias – hortas coletivas que contam com o trabalho voluntário de indivíduos de uma região para sua manutenção – trazem melhorias à comunidade, desde fortalecer a relação de um grupo de pessoas com o espaço que convivem a gerar renda extra a quem necessita.

O Shopping Pantanal, em Cuiabá, por exemplo, conta com uma horta comunitária, a qual toda a produção é destinada aos colaboradores, lojistas e projetos sociais. O projeto iniciou em 2016, com a utilização do resíduo orgânico coletado na praça de alimentação como composto para cultivo. Segundo Marcelo Lopes, Gerente de Operações do shopping, é notório o poder de engajamento do projeto, que, constantemente, realiza ações com funcionários voluntários. “Sem dúvidas, existe esse benefício emocional. A ação de mexer com a terra é algo revigorante e acredito que seja um reencontro com as origens.”

O condomínio horizontal de alto-padrão do Vinhedos contará com pomar e hortas urbanas, que permitirão a seus moradores se beneficiarem com todos os fatores terapêuticos que o contato com a terra proporciona, além de serem espaços de encontro nos quais esses podem trocar experiências e se socializar.

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