Sistemas inovadores de coleta de lixo otimizam a reciclagem e dão um destino melhor aos resíduos, uma solução mais ecológica ao ambiente
A quantidade de lixo produzido no Brasil bate recordes anuais sucessivamente. Em documento divulgado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza (Abrelpe), o Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil de 2018/2019 demonstrou uma geração total de 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos no país em 2018, cerca de 540 mil toneladas por dia, um aumento de 1% em relação ao ano anterior. Deste total, apenas 92% foram coletados, uma pequena melhora de 1,66% em relação a 2017.
A coleta seletiva é um dos meios de otimizar os processos de destinação do lixo, dando uma melhor finalidade a ele e causando menos impacto no ambiente. Nela, o lixo é previamente separado em orgânico ou recicláveis – papel, metal, plástico e vidro. Quando estes materiais chegam às cooperativas, são separados para serem reciclados e a parte descartada é enviada aos aterros sanitários. Assim, a coleta seletiva facilita o tratamento do lixo e é considerada uma maneira ecológica mais adequada para o descarte, o que ajuda a evitar a poluição do solo e das águas.
Para esta separação adequada, foi estabelecido um código de cores que define o tipo de material reciclado a ser descartado, seguindo a Resolução do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) N.º 275/2001. Estas cores estampam os contentores – as lixeiras – e são as seguintes:
Cores da Coleta Seletiva
- Azul: Papel
Reciclam-se: jornais, revistas, caixas, sulfites, folhas de caderno, embalagens de papelão etc.
Não se recicla: papel carbônico, metalizado, plastificado, celofane e sanitário; fita crepe, adesivos, fotografias, livros etc. - Vermelho: Plástico
Reciclam-se: garrafas pet, embalagens de plástico e sacos.
Não se recicla: acrílico, cabos de panela, adesivos e tomadas. - Amarelo: Metal
Reciclam-se: latas de alumínio e de metal, tampinhas de garrafa, clipes, grampos e materiais de aço em geral.
Não se recicla: esponja de aço. - Verde: Vidro
Reciclam-se: garrafas, copos, potes, perfumes, frascos de medicamentos e de demais materiais de vidro.
Não se recicla: espelhos, tubos de TV, louças e óculos.
Esta seletividade pode iniciar dentro de casa, com os cidadãos colaborando com este processo da destinação apropriada dos resíduos, tendo sempre em mente o princípio dos 3Rs: Reduzir, Reutilizar e Reciclar.
- Reduzir: mudança nos hábitos dos consumidores, com a aquisição de bens e serviços de acordo com a real necessidade, para evitar desperdícios, economizando energia, água, combustíveis e outros recursos. Prezar por bens que tenham uso a longo prazo em contrapartida aos descartáveis;
- Reutilizar: dar novos usos e funções a materiais que viriam a ser descartados. Potes de vidros e plásticos, por exemplo, podem ser utilizados para o armazenamento de mantimentos ao invés de serem jogados fora.
- Reciclar: os produtos recicláveis devem ser descartados corretamente para a coleta seletiva, que se encarregará de destiná-los para os lugares corretos, transformando-os em novos produtos.
Reciclagem – um melhor caminho para o lixo
A reciclagem é um método de reaproveitamento de materiais descartados, transformando-os em novos produtos com a mesma função – ou não, por meio de mudanças em seus estados físico, físico-químico ou biológico. Para isso, é necessário que estes materiais sejam compostos por elementos que possam retornar ao seu estado original, ou seja, transformados novamente em matérias-primas, como é o caso do metal e do plástico, para confeccionar outros produtos.
No caso dos materiais orgânicos, serão destinados ao aterro sanitário, e os materiais recicláveis serão encaminhados para unidades de valorização de resíduos; Thiago Sampaio, executivo da Sotkon Brasil
Reutilizar e reciclar são conceitos diferentes. Usando o papel para exemplificar as duas situações, o papel reciclado tem um aspecto amarronzado, diferentemente de uma folha sulfite convencional. Isso porque o papel não consegue retornar ao estado original em todas suas características, sendo transformado em uma massa que dará origem a um novo produto, porém com a mesma função.
Além da reciclagem, o papel também pode ser reaproveitado – o que não interfere em sua estrutura – para servir de rascunho, para impressão utilizando o verso da folha, e para atividades das crianças, como recortes, dobraduras, desenhos, entre outros.
Em países mais desenvolvidos, nos quais a gestão adequada do lixo é tratada como prioridade, a coleta é sempre pensada de forma a potencializar e viabilizar a reciclagem. Vejamos:
Países que são exemplos de bom tratamento dos resíduos sólidos
Alemanha
A Alemanha é campeã mundial em tecnologias e políticas de resíduos sólidos e possui elevados índices de reaproveitamento. Em 2011, 63% de todos os resíduos urbanos foram reciclados no país, sendo 46% por reciclagem e 17% por compostagem. O objetivo da Alemanha é alcançar a recuperação total de resíduos sólidos urbanos, zerando o envio de lixo aos aterros sanitários.
Japão
Com uma área territorial pequena para uma população muito elevada, a redução do volume de lixo tem sido uma questão séria no Japão. Desde 1970, época em que entrou em vigor a Lei de Gestão de Resíduos, muitos outros pontos foram implementados, como a lei de incentivo à coleta seletiva e reciclagem. Atualmente, o Japão produz 100% das garrafas pet em resina reciclada, além de usá-la em materiais de construção, móveis e utensílios.
Solução inovadora: coleta seletiva a vácuo subterrânea
Agora, quando o assunto é inovação, a Suécia está décadas à frente, encarando a gestão dos resíduos sólidos como uma prioridade. Por um sistema chamado Envac, as lixeiras públicas são conectadas a tubos subterrâneos, que levam os resíduos nelas depositados a uma área de coleta. Pela sucção, este lixo “viaja” a uma velocidade de 70 Km/h por esta rede subterrânea. Ao chegarem ao destino, os resíduos são separados e compactados em contêineres e, a partir daí, seguirão rumo à reciclagem, compostagem, incineração etc. Os sacos de lixo podem ser depositados a qualquer momento nas lixeiras, nos coletores de recicláveis e não recicláveis. Um sensor instalado consegue detectar quando a lixeira está cheia.
Barcelona, na Espanha, também utiliza do sistema de coleta subterrâneo, com as bocas de lixo conectadas à tubulação enterrada a pelo menos cinco metros da superfície. O destino final é um centro de coleta. O lixo entra diretamente no contêiner, que depois é transportado para uma usina de triagem. Os plásticos, latas e papéis são reciclados, e o lixo orgânico vira combustível para mover turbinas que produzem eletricidade. A iniciativa nasceu em 1992, na Vila Olímpica de Barcelona, pensada especialmente para os Jogos Olímpicos.
O grande intuito da conteinerização subterrânea é aprimorar o modelo de coleta de resíduos, aplicando módulos individuais de descarte com capacidade de 3000 L (3 m³), separando os materiais recicláveis dos demais resíduos gerados; Thiago Sampaio, executivo da Sotkon Brasil
Vinhedos: pioneiro regional na coleta seletiva inteligente
De par a par com as soluções inovadoras europeias para a coleta e destinação do lixo, o bairro Vinhedos também terá um sistema coletor diferenciado. Nele, os contêineres estanques de armazenamento serão instalados no subsolo e receberão os resíduos através das lixeiras, que estão situadas na superfície. Estes contêineres são envolvidos por uma cuba unitária de concreto 100% estanque, impedindo a entrada e saída de líquidos passíveis de contaminar o subsolo.
“O grande intuito da conteinerização subterrânea é aprimorar o modelo de coleta de resíduos, aplicando módulos individuais de descarte com capacidade de 3000 L (3 m³), separando os materiais recicláveis dos demais resíduos gerados”, explica Thiago Sampaio, executivo da Sotkon Brasil, que desenvolve o Sistema Subterrâneo Koncept, que estará disponível em primeira mão no Bairro Vinhedos. Assim, ele adianta que as lixeiras (ou coletores) serão adaptadas para otimizar este descarte correto. “No caso dos materiais orgânicos, serão destinados ao aterro sanitário, e os materiais recicláveis serão encaminhados para unidades de valorização de resíduos”, completa.
Com isso, além do aprimoramento da coleta seletiva e do consequente incentivo à reciclagem, o sistema Koncept permite redução considerável nos custos com a coleta, precisando de poucos colaboradores para o manuseio dos resíduos e reduzindo as viagens dos veículos coletores. Além disso, contando com a tecnologia, o sistema possui uma ferramenta chamada Sotkis, que disponibiliza informações instantâneas do sistema subterrâneo de armazenamento dos resíduos para maximizar sua eficiência, assim “cada empresa ou município pode obter informações sobre o nível de volume dos contêineres por meio de sensores especiais, planejando a rota mais eficiente e conhecendo a periodicidade de descarte dos resíduos com controles de acesso on-line”, pontua Sampaio. Ele ainda acrescenta que manutenções preventivas e corretivas também podem ser notificadas por este canal.
Outros diferenciais do sistema inteligente de coleta de lixo Koncept em relação aos convencionais são:
- Redução do impacto ambiental e eliminação de odores, permitindo que os resíduos fiquem totalmente protegidos;
- Baixo custo de manutenção;
- Substituição dos tradicionais contêineres de superfície por contêineres subterrâneos otimizam o espaço utilizado, além de aumentar a capacidade de descarte dos resíduos;
- Fortalecimento da coleta seletiva.
Essa é mais uma das alternativas sustentáveis que fazem do Vinhedos um bairro pensado nos conceitos de Smart City, ao lado de um sistema multimodal completo e da iniciativa de ter um eletroposto próprio para a recarga de carros elétricos.