O arquiteto, especializado em Neuroarquitetura, reune estratégias que ajudam os ambientes a criar estímulos ao cérebro e promover bem-estar

A criação está nas veias do arquiteto Rodrigo Paes de Barros. Antes de se formar em Arquitetura pela Universidade de Cuiabá, em 2016, Rodrigo atuava como publicitário, o que segundo o próprio, são duas áreas que se correlacionam, principalmente nos projetos comerciais, em que arquitetura deve estar atrelada à identidade visual da empresa.

Usando os princípios da Neuroarquitetura, na qual é especializado, o arquiteto acredita que é possível construir espaços eficazes e com propósitos, garantindo, por exemplo, ambientes de trabalho que estimule melhores resultados ou mesmo residências que proporcionem maior bem-estar a seus moradores. Para isso, algumas táticas, que parecem meros detalhes, como a escolha da cor, podem ser determinantes e até influenciar nas emoções.

Rodrigo Paes de Barros acredita que todos os espaços da casa merecem sua devida atenção, e que um ambiente saudável “é aquele em que nós nos sentimos bem nele, que possui elementos e características que nos fazem relaxar e ter momentos de bem-estar”. Em entrevista, ele analisa alguns impactos que o período pós-pandemia deixará na Arquitetura e como os ambientes ao nosso entorno afetam as emoções e até mesmo as atitudes.

Explique mais sobre sua especialização em Neuroarquitetura e qual a contribuição deste campo para a concepção dos projetos arquitetônicos.

A Neuroarquitetura é muito importante, embora no Brasil seja vista como algo novo, em vários países, é muito usada há algum tempo. Se pudermos resumir a Neuroarquitetura, seria a aplicação de estudos da neurociência sobre espaços construídos, visando a maior compreensão do estímulo que o cérebro recebe dentro de ambientes – esses estímulos podem interferir no comportamento humano.

Com os estudos da neurociência sendo aplicado na Arquitetura, conseguimos ter projetos eficazes, e como resposta, teremos empresas com ambientes favoráveis a incitar melhores resultados sem gerar grandes pressões aos seus colaboradores, escolas que estimulem e agucem a criatividade, residências planejadas buscando o bem-estar físico e mental da família, hospitais e clínicas com ambientes preparados para a recuperação através, também, de estímulos.

Como e onde você busca inspiração para seu trabalho?

Essa é uma pergunta que parece simples, mas tem uma complexidade enorme. Entendo que a inspiração, quando se restringe a métodos, pode acabar nos limitando, mas procurando sistematizar dentro dos padrões mais corriqueiros. Vou procurar dividir em dois pontos diferentes:

A inspiração principal é a natureza. Tendo condições, sempre procuro trabalhar elementos ligados à natureza, não necessariamente plantas, muitas vezes podem ser texturas, cores, iluminação, quadros, janelões que interajam os ambientes externos com os internos, são alguns exemplos.

O processo de criação acaba sendo mais metódico e pessoal. O meu processo de criação, inicialmente, tem como primeiro passo entender o programa de necessidades do cliente para, então, fazer a busca de referências, que é uma parte importante do processo, em que procuramos informações que se enquadrem naquilo que o cliente precisa.

O design thinking é um processo exploratório, que envolve dados, e também um processo orgânico que envolve a alma, sentimentos e sentidos. A junção desses dois processos me ajuda no caminhar da criação.

No projeto para o espaço de reunião da Sala Presidencial da IP, você relata que foram trabalhadas estratégias biofílicas. Qual a relação entre biofilia e produtividade no trabalho?

Este projeto foi desenvolvido para a Igreja Presbiteriana em parceria com a Faculdade Mackenzie. Por se tratar de uma instituição de ensino que presa pela qualidade de vida de seus alunos, parceiros e membros, utilizamos a biofilia. A biofilia gera melhor produtividade pelo fato de influenciar na qualidade de vida, diminuindo o estresse e aumentando a capacidade criativa. Existem diversos estudos, como da Human Spaces, que nos mostram como a qualidade de vida e a produção estão intimamente relacionadas. Colaboradores felizes e valorizados em ambientes humanizados produzem mais e com melhor qualidade, comparado com profissionais sujeitos à pressão e ao estresse.

Como você enxerga a área gourmet na promoção de bem-estar, visto que fez um post comentando sobre como a pandemia nos fez perceber a importância de habitar em ambientes saudáveis? Quais outras áreas na casa você acredita que pode promover este bem-estar e de que maneira?

De um tempo para cá, começamos a viver uma “febre da área gourmet”, todos querem em suas casas, pois é um ambiente bonito, valoriza a casa em uma possível revenda. Mas ela não deve ser vista apenas como um espaço “instagramável” da casa. Se procurarmos olhar de forma mais profunda, a área gourmet é um espaço oportuno para viver em família, com amigos e pessoas cuja companhia melhora o nosso dia a dia. O ambiente saudável é aquele que nós nos sentimos bem nele, que possui elementos e características que nos fazem relaxar e ter momentos de bem-estar. Nesse sentido, todos os ambientes da casa são importantes, mas se tratando de uma residência, em que o foco é relacionamento familiar, entendo que dar atenção maior a ambientes como sala de estar e sala de jantar seria interessante, pois a intenção é criar espaços que estimulem a comunhão familiar. Muitas famílias gostam também de áreas de jogos, pois estes ambientes podem ser úteis para fortalecer os laços familiares.

Para você, uma boa fachada é tão importante quanto um bom cartão de visita. Quais os principais atributos que uma fachada deve ter para cumprir com seu papel em um projeto comercial?

Uma das questões que muitas empresas pecam é em não se preocupar com seu espaço comercial. Também faz parte da sua identidade visual, não se trata de ter uma estrutura bonita simplesmente, mas como essa fachada se comunica com o seu cliente. A mesma preocupação que a empresa tem em mostrar sua identidade em um cartão, folder ou propaganda precisa estar presente na Arquitetura, sendo que o ideal é uma junção, uma combinação da publicidade e arquitetura. Diversos atributos podem deixar sua fachada apresentável, a beleza, imponência e acessibilidade, mas o desafio principal seria: sua fachada se comunica com a identidade visual criada para sua empesa?

O home office se tornou a realidade de muitos no período da pandemia, e pode ser que se transforme em uma solução duradoura para muitas empresas e trabalhadores. Quais as estratégias para montar um espaço de trabalho funcional dentro de casa e o que deve ser levado em conta para este ambiente?

Muitos especialistas acreditavam em uma mudança pós-pandemia e diversos estudos, um deles feito pela The Economist Intelligence Unit (EIU), apontam que isso passou de tese para um fato. A pandemia acabou acelerando uma transformação digital que já vinha acontecendo, para algumas profissões ou áreas já se tornou comum o home office. Entendendo pela Neuroarquitetura que o espaço exerce influência sobre o cérebro, e, por fim, em nossas ações e comportamentos, diversas estratégias podem ser usadas para melhorar o desempenho durante o trabalho em casa.

• Se possível, ter um ambiente próprio ou espaço devidamente delimitado somente para home office. Um ambiente que, quando você o deixar no final do dia e fechar a porta, consiga ter a percepção que você está fora do seu horário e local de trabalho.
• Caso não tenha um ambiente específico para trabalho, monte sua mesa próximo a uma janela, lugar que seja arejado e confortável, tanto na temperatura interna do ambiente quanto confortável na iluminação. Se possível, evitar fazer o home office dentro do seu quarto, seu dormitório é para descanso.
• Ergonomia: Se preocupe em ter uma boa cadeira de trabalho, uma mesa ajustada na altura correta, a ergonomia é importante, evita dores e lesões durante o trabalho.

Em um post de um quarto para a Residência P|J, são mencionadas as características da cor trabalhada – neste caso, o azul. Explique mais sobre a Psicologia das Cores, sua importância e de que forma ela pode ser explorada nos ambientes.

Na Residência P|J, usamos o azul não pensando apenas em tendência, mas pela possível influência causada pela cor. A cor azul em um ambiente transmite tranquilidade, mas também estimula a criatividade, é ligada ao divino e por se tratar da casa onde os moradores são religiosos, sua proposta foi muito bem recebida.

As cores são extremamente importantes, não podem ser vistas apenas como estética ou tendência, existem diversos estudos e artigos científicos falando da sua importância e de como as cores associadas ao ambiente podem influenciar nas nossas emoções, consequentemente em atitudes.

Você chegou a participar de um encontro on-line no @eusoulivres, cujo tema era Arquitetura Pós-Pandemia. Qual o impacto que a pandemia causou neste mercado e como você enxerga o novo cenário dentro da Arquitetura de agora em diante?

Este tema é muito amplo e interessante. Em pouco tempo, tivemos muitas mudanças, adaptações que são comuns, pois a Arquitetura se molda de acordo com a necessidade das pessoas. Uma das mudanças que podemos citar, além do home office, seria o hall de apartamentos, que durante o auge da pandemia, serviu como “área de descontaminação”. Em casas, essa área, dependendo do layout, poderia ser o hall de entrada para visitantes e a área de serviço para membros da família, ambas sendo usadas como área de descontaminação. Pelo fato da repetição em períodos prolongados, acredito que o hall continuará sendo uma área de higienização, mesmo pós-pandemia, como é comum em países orientais, onde se deixam os sapatos antes de se adentrar a casa.

Um detalhe interessante também é uma procura maior por casas. Durante a pandemia, vimos famílias com quatro ou mais membros morando em apartamentos em média de sessenta metros quadrados. Dentro desta realidade, muitas famílias migraram de apartamentos para casas, aquecendo muito o mercado. Acredito que a procura por terrenos e casas continuará maior que a procura por apartamentos.

Sobre a importância de morar com qualidade, o bairro Vinhedos ofertará a seus moradores muita área verde, espaço para lazer e para práticas de exercícios físicos. Que tipos de projetos residenciais você visualiza para este empreendimento e em quais ambientes você apostaria nos imóveis para aprimorar ainda mais o bem-estar de seus moradores?

A proposta do bairro Vinhedos em Cuiabá é única, digo isso principalmente pela valorização dada às áreas verdes, propondo para seus moradores maior interação com o meio ambiente. O bem-estar causado pelo entorno traz saúde mental e física.

Com certeza, os projetos residenciais projetados teriam como foco uma relação mais intimista com a natureza, com o ambiente externo e tudo que o entorno tem para nos oferecer. A estrutura oferecida pelo Vinhedos tem tudo para trazer qualidade de vida para seus moradores.